quinta-feira, 11 de abril de 2013

"Pra que mentir?" e "Dom de iludir": uma voz que responde a outra

"Toda enunciação, mesmo na forma imobilizada da escrita, é uma resposta a alguma coisa e é construída como tal" (BAKHTIN, Mikhail/ VOLOCHINOV. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec, 1997).

      Tendo em vista a frase citada acima do teórico russo Bakhtin verifica-que que toda palavra escrita é uma resposta direcionada a algo, a uma situação ou pessoa específicas. Para exemplificar tal afirmação, usaremos as músicas "Pra que mentir?", de Vadico e Noel Rosa e "Dom de iludir", de Caetano Veloso.


      A música "Pra que mentir?" foi escrita por Noel Rosa, de parceria com Vadico, enquanto Noel Rosa passava por uma relação amorosa com Ceci, que marcou muito a sua vida. Ceci, por sua vez, mantinha um relacionamento com ele e com Mário Lago ao mesmo tempo, o que fazia com que Noel Rosa lhe dissesse que ela ainda não havia aprendido a mentir.



      Então, Caetano Veloso escreve a música "Dom de iludir" como resposta a música de Noel Rosa. Enquanto esse último coloca em sua letra uma voz masculina que chama a mulher de mentirosa e traidora, Caetano Veloso, coloca em sua letra uma voz feminina que acusa o homem de mentir também de forma dissimulada, fingindo ser verdade o que é na realidade mentira, apenas para iludí-la. Ou seja, no jogo do amor tanto homem como mulher acabam dissimulando e mentindo.
      Enfim, a intertextualidade nessas duas músicas acontece implicitamente quando uma responde a outra em seu conteúdo, como afirma a frase inicial de Bakhtin.